terça-feira, 15 de julho de 2014

Minha Pequena África - Um Tour a Pé pela Zona Portuária do Rio de Janeiro

Uma das melhores coisas da vida é o aprendizado. Seja ele da forma que for e o quer que seja que você esteja aprendendo. Pode ser uma nova língua, pode ser uma nova receita ou até mesmo sobre a história do lugar onde você vive.

Eu já compartilhei com vocês alguns lugares que visitei e recomendo,  na Zona Portuária do Rio de Janeiro e também já disse que essa área está passando por uma grande revitalização.

Mas hoje, em especial  quero compartilhar com vocês a experiência de fazer um tour a pé por este local e poder conhecer e entender um pouco mais da nossa história.

O Tour

Uma das minhas visitas técnicas do curso técnico de turismo (conheça mais sobre o cursoaqui), era um tour guiado pela zona portuária do Rio de Janeiro. O local, que na época da colonização foi um dos palcos principais de um período tenebroso da história: A escravidão, ficou conhecido hoje como a Pequena África.

O Tour é oferecido quinzenalmente pelo Instituto dos Pretos Novos (Museu Memorial), gratuitamente e conta com o guiamento especial de gente que entende do assunto. No dia que eu fui era a Doutoranda em Políticas Públicas e Formação Humana - Carla Nogueira Marques

O tour teve início às 09 da manhã em frente ao M.A.R (Museu de Arte do Rio) e teve uma duração de 4 horas. O roteiro é todo feito a pé e teve uma pausa de 15 minutos para um lanche rápido e/ou pit stop no banheiro :)

Durante todo o trajeto fomos acompanhados por um grupo teatral  O Grupo Periferia em CENA que a cada parada para explicação do local que estávamos, encenavam uma pequena esquete com os hábitos, angústias, medos e reflexões sobre a sociedade afro que vivia naquela época no Rio de Janeiro.

O Roteiro
O roteiro passa por diversos locais que talvez você já até tenha ido, mas que não saiba exatamente o quão importante aquele local foi.

-Pedra do Sal
“Considerada berço do samba carioca, a Pedra do Sal, ao fim da Rua Argemiro Bulcão, ainda é ponto de encontro de sambistas da cidade. Tem este nome porque o sal era descarregado na rocha por africanos escravizados no século XVII. Os degraus foram esculpidos para facilitar o trabalho de subir na pedra lisa. A partir da segunda metade do século XIX, estivadores se reuniam no local para cantar e dançar. Na Pedra do Sal, surgiram os primeiros ranchos carnavalescos, afoxés e rodas de samba. Por ali passaram grandes nomes da música, como João da Baiana, Pixinguinha e Donga. Em 20 de novembro de 1984, dia da Consciência Negra, foi tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac). “ 



Nota da blogueira: A Pedra do Sal hoje é sinônimo de samba e diversão. Toda segunda-feira e sexta-feira tem samba de raíz começando por volta de 19h. Então, pra quem quer dar uma esticadinha no Centro da Cidade, é uma boa opção.

Encenação do Grupo Periferia em CENA na Pedra do Sal (*)
Mais do Grupo Periferia em CENA (*)

- Jardim Suspenso do Valongo
“A antiga Rua do Valongo, que ligava o Cais do Valongo ao Largo do Depósito, abrigava lojas que vendiam escravos e artigos relacionados à prática da escravidão. No eixo formado por este caminho, os escravos recém-chegados eram acomodados em barracões conhecidos como casas de engorda, onde literalmente ganhavam peso, de modo a valorizar seu preço no mercado. Nesta área também havia mercados onde os africanos escravizados eram expostos aos potenciais compradores. No início do século XX, por ocasião do alargamento da via, foram construídos o Jardim Suspenso do Valongo, a Casa da Guarda e o Mictório Público. Parte do plano de remodelação e embelezamento da cidade pelo Prefeito Pereira Passos, o parque foi projetado pelo arquiteto-paisagista Luis Rey e inaugurado em 1906. Escavação arqueológica encontrou vasto acervo que remete à "tralha doméstica" da época, revelando aspectos da vida cotidiana, costumes e mentalidade dos habitantes do Morro da Conceição.”



Nota da Blogueira:  O lugar é lindo e dá acesso direto ao Morro da Conceição.

Jardim Suspenso do Valongo (*)
Mais dos Jardins Suspensos (*)

- Largo do Depósito
“Em 1779, quando o Marquês de Lavradio determinou a transferência do mercado de escravos da Praça XV para a região do Valongo, o Largo do Depósito, hoje Praça dos Estivadores, concentrava armazéns de "negociantes de grosso trato" que controlavam o negócio. A mudança introduziu uma série de novas atividades na área, como a instalação de trapiches, manufaturas e armazéns. O mercado na Rua do Valongo foi extinto oficialmente em 1831.”



- Cais do Valongo e da Imperatriz
“A Intendência Geral de Polícia da Corte da Cidade do Rio de Janeiro construiu o Cais do Valongo em 1811 para atender a antiga determinação do Vice-Rei, o Marquês de Lavradio, feita em 1779. Seu objetivo era retirar da Rua Direita, atual Primeiro de Março, o desembarque e comércio de africanos escravizados. O mercado de escravos se intensificou a partir da construção do Cais, porta de entrada de mais de 500 mil africanos, em sua maioria, vindos do Congo e de Angola, Centro-Oeste africano. Ao longo dos anos, o Cais sofreu sucessivas transformações. Na primeira intervenção, em 1843, foi remodelado com requinte para receber a Princesa das Duas Sicílias, Teresa Cristina Maria de Bourbon, noiva do (então) futuro Imperador D. Pedro II, e passou a se chamar Cais da Imperatriz, em memória ao acontecimento. Com as reformas urbanísticas da cidade no início do século XX, o Cais da Imperatriz foi aterrado em 1911. Um século depois, em 2011, as obras de reurbanização do Porto Maravilha permitiram o resgate do sítio arqueológico, agora monumento preservado e aberto, atendendo a uma antiga reivindicação do Movimento Negro.”




Cais da Imperatriz (*)
- Centro Cultural José Bonifácio
“Inaugurado em 14 de março de 1877, o Centro Cultural José Bonifácio foi o primeiro colégio público da América Latina. Construído por ordem de D. Pedro II para a educação da comunidade carente da Região Portuária, fazia parte do conjunto das "escolas do imperador". Desativado em 1977, deu lugar à Biblioteca Popular Municipal da Gamboa. O palacete da Rua Pedro Ernesto 80, na Gamboa, é um centro de referência da cultura afro-brasileira.”



Nota da Blogueira: Durante a nossa visita o grupo de teatro fez uma apresentação de samba de roda e até quem não sabia dançar, acabou entrando na roda.

Bora sambar? (*)
O pessoal caindo no samba...Eu sou essa de preto aí de costas e lenço na cabeça...Tava quietinha...hahahaha (*)

Momento Instagram. Piso do Instituto José Bonifácio

- Cemitério dos Pretos Novos
“A transferência do mercado de escravos da região da Rua Primeiro de Março (antiga Rua Direita) para a do Valongo implicou mudança do Cemitério dos Pretos Novos do Largo de Santa Rita para o Caminho da Gamboa - hoje a Rua Pedro Ernesto 32, endereço do Instituto Pretos Novos (IPN). Pretos Novos eram os cativos recém-chegados ao Brasil. Muitas vezes, não resistiam aos maus tratos da viagem desde a África e morriam pouco depois de desembarcar. O sítio arqueológico foi descoberto em 1996, quando moradores reformavam a casa. Arqueólogos identificaram milhares de fragmentos de restos mortais de jovens, homens, mulheres e crianças, africanos recém-chegados. Registros oficiais apontam o enterro de 6 mil pessoas neste cemitério, mas alguns historiadores acreditam que o número chegaria a 20 mil. Seus corpos foram jogados em valas e queimados. A área servia também como depósito de lixo, o que revela o tratamento indigno aos africanos escravizados. Além de ossos humanos, havia também pertences dos pretos novos, como restos de alimentos e objetos de uso cotidiano descartados pela população. A análise do sítio constatou que a maior parte dos ossos pertence a crianças e adolescentes. Hoje a casa funciona como centro cultural para o resgate da história da cultura africana e oferece cursos e oficinas sobre a temática negra, além de uma pequena biblioteca.”



Nota da Blogueira: Incrível como tesouros perdidos são encontrados por acaso não é? O lugar tem um clima meio pesado e triste, mas vale a visitação para entendermos melhor a nossa história.

Cemitério dos Pretos Novos (*)


Uma singela homenagem aos negros que foram "enterrados" no cemitério dos Pretos Novos

E vou terminando esse post com uma frase:  “A verdade consiste em  evitar o esquecimento. Existe um dever de memória, principalmente em relação ao que dói e incomoda.” – Jacques Le  Goff

(*) As fotos marcadas com este símbolo foram retiradas da página oficial do Facebook do IPN - https://www.facebook.com/IPNMuseu  todas as demais são de autoria da própria blogueira.

Informações do IPN
Rua Pedro Ernesto, 32/34
20.220-350 Rio de Janeiro
Telefone: 021 2516-7089
E-mail: pretosnovos@pretosnovos.com.br
Website: http://www.pretosnovos.com.br
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