Uma das
melhores coisas da vida é o aprendizado. Seja ele da forma que for e o quer que
seja que você esteja aprendendo. Pode ser uma nova língua, pode ser uma nova
receita ou até mesmo sobre a história do lugar onde você vive.
Eu já
compartilhei com vocês alguns lugares que visitei e recomendo, na Zona Portuária do Rio de Janeiro e também
já disse que essa área está passando por uma grande revitalização.
Mas hoje,
em especial quero compartilhar com vocês
a experiência de fazer um tour a pé por este local e poder conhecer e entender
um pouco mais da nossa história.
O Tour
Uma das
minhas visitas técnicas do curso técnico de turismo (conheça mais sobre o cursoaqui), era um tour guiado pela zona portuária do Rio de Janeiro. O local, que na
época da colonização foi um dos palcos principais de um período tenebroso da
história: A escravidão, ficou conhecido hoje como a Pequena África.
O Tour é
oferecido quinzenalmente pelo Instituto
dos Pretos Novos (Museu Memorial), gratuitamente e conta com o guiamento especial
de gente que entende do assunto. No dia que eu fui era a Doutoranda em
Políticas Públicas e Formação Humana - Carla Nogueira Marques.
Durante todo o trajeto fomos acompanhados por
um grupo teatral O Grupo Periferia em CENA que a cada parada
para explicação do local que estávamos, encenavam uma pequena esquete com os hábitos,
angústias, medos e reflexões sobre a sociedade afro que vivia naquela época no
Rio de Janeiro.
O Roteiro
O roteiro passa por diversos locais que talvez
você já até tenha ido, mas que não saiba exatamente o quão importante aquele
local foi.
-Pedra do Sal
“Considerada berço do
samba carioca, a Pedra do Sal, ao fim da Rua Argemiro Bulcão, ainda é ponto de
encontro de sambistas da cidade. Tem este nome porque o sal era descarregado na
rocha por africanos escravizados no século XVII. Os degraus foram esculpidos
para facilitar o trabalho de subir na pedra lisa. A partir da segunda metade do
século XIX, estivadores se reuniam no local para cantar e dançar. Na Pedra do
Sal, surgiram os primeiros ranchos carnavalescos, afoxés e rodas de samba. Por
ali passaram grandes nomes da música, como João da Baiana, Pixinguinha e Donga.
Em 20 de novembro de 1984, dia da Consciência Negra, foi tombada pelo Instituto
Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac). “
Nota da blogueira: A Pedra do Sal hoje é sinônimo de
samba e diversão. Toda segunda-feira e sexta-feira tem samba de raíz começando
por volta de 19h. Então, pra quem quer dar uma esticadinha no Centro da Cidade,
é uma boa opção.
Encenação do Grupo Periferia em CENA na Pedra do Sal (*) |
Mais do Grupo Periferia em CENA (*) |
- Jardim Suspenso do Valongo
“A antiga Rua do
Valongo, que ligava o Cais do Valongo ao Largo do Depósito, abrigava lojas que
vendiam escravos e artigos relacionados à prática da escravidão. No eixo
formado por este caminho, os escravos recém-chegados eram acomodados em
barracões conhecidos como casas de engorda, onde literalmente ganhavam peso, de
modo a valorizar seu preço no mercado. Nesta área também havia mercados onde os
africanos escravizados eram expostos aos potenciais compradores. No início do
século XX, por ocasião do alargamento da via, foram construídos o Jardim
Suspenso do Valongo, a Casa da Guarda e o Mictório Público. Parte do plano de
remodelação e embelezamento da cidade pelo Prefeito Pereira Passos, o parque
foi projetado pelo arquiteto-paisagista Luis Rey e inaugurado em 1906.
Escavação arqueológica encontrou vasto acervo que remete à "tralha
doméstica" da época, revelando aspectos da vida cotidiana, costumes e
mentalidade dos habitantes do Morro da Conceição.”
Nota da Blogueira: O lugar é lindo e dá acesso direto ao Morro da Conceição.
Jardim Suspenso do Valongo (*) |
Mais dos Jardins Suspensos (*) |
- Largo do Depósito
“Em 1779, quando o
Marquês de Lavradio determinou a transferência do mercado de escravos da Praça
XV para a região do Valongo, o Largo do Depósito, hoje Praça dos Estivadores,
concentrava armazéns de "negociantes de grosso trato" que controlavam
o negócio. A mudança introduziu uma série de novas atividades na área, como a
instalação de trapiches, manufaturas e armazéns. O mercado na Rua do Valongo
foi extinto oficialmente em 1831.”
- Cais do Valongo e da
Imperatriz
“A Intendência Geral
de Polícia da Corte da Cidade do Rio de Janeiro construiu o Cais do Valongo em
1811 para atender a antiga determinação do Vice-Rei, o Marquês de Lavradio,
feita em 1779. Seu objetivo era retirar da Rua Direita, atual Primeiro de
Março, o desembarque e comércio de africanos escravizados. O mercado de
escravos se intensificou a partir da construção do Cais, porta de entrada de
mais de 500 mil africanos, em sua maioria, vindos do Congo e de Angola,
Centro-Oeste africano. Ao longo dos anos, o Cais sofreu sucessivas
transformações. Na primeira intervenção, em 1843, foi remodelado com requinte
para receber a Princesa das Duas Sicílias, Teresa Cristina Maria de Bourbon,
noiva do (então) futuro Imperador D. Pedro II, e passou a se chamar Cais da
Imperatriz, em memória ao acontecimento. Com as reformas urbanísticas da cidade
no início do século XX, o Cais da Imperatriz foi aterrado em 1911. Um século
depois, em 2011, as obras de reurbanização do Porto Maravilha permitiram o
resgate do sítio arqueológico, agora monumento preservado e aberto, atendendo a
uma antiga reivindicação do Movimento Negro.”
Cais da Imperatriz (*) |
- Centro Cultural José
Bonifácio
“Inaugurado em 14 de
março de 1877, o Centro Cultural José Bonifácio foi o primeiro colégio público
da América Latina. Construído por ordem de D. Pedro II para a educação da
comunidade carente da Região Portuária, fazia parte do conjunto das
"escolas do imperador". Desativado em 1977, deu lugar à Biblioteca
Popular Municipal da Gamboa. O palacete da Rua Pedro Ernesto 80, na Gamboa, é
um centro de referência da cultura afro-brasileira.”
Nota da Blogueira: Durante a nossa visita o grupo de
teatro fez uma apresentação de samba de roda e até quem não sabia dançar,
acabou entrando na roda.
Bora sambar? (*) |
O pessoal caindo no samba...Eu sou essa de preto aí de costas e lenço na cabeça...Tava quietinha...hahahaha (*) |
Momento Instagram. Piso do Instituto José Bonifácio |
- Cemitério dos Pretos
Novos
“A transferência do
mercado de escravos da região da Rua Primeiro de Março (antiga Rua Direita)
para a do Valongo implicou mudança do Cemitério dos Pretos Novos do Largo de
Santa Rita para o Caminho da Gamboa - hoje a Rua Pedro Ernesto 32, endereço do
Instituto Pretos Novos (IPN). Pretos Novos eram os cativos recém-chegados ao
Brasil. Muitas vezes, não resistiam aos maus tratos da viagem desde a África e
morriam pouco depois de desembarcar. O sítio arqueológico foi descoberto em
1996, quando moradores reformavam a casa. Arqueólogos identificaram milhares de
fragmentos de restos mortais de jovens, homens, mulheres e crianças, africanos
recém-chegados. Registros oficiais apontam o enterro de 6 mil pessoas neste cemitério,
mas alguns historiadores acreditam que o número chegaria a 20 mil. Seus corpos
foram jogados em valas e queimados. A área servia também como depósito de lixo,
o que revela o tratamento indigno aos africanos escravizados. Além de ossos
humanos, havia também pertences dos pretos novos, como restos de alimentos e
objetos de uso cotidiano descartados pela população. A análise do sítio
constatou que a maior parte dos ossos pertence a crianças e adolescentes. Hoje
a casa funciona como centro cultural para o resgate da história da cultura
africana e oferece cursos e oficinas sobre a temática negra, além de uma
pequena biblioteca.”
Nota da Blogueira: Incrível como tesouros perdidos são
encontrados por acaso não é? O lugar tem um clima meio pesado e triste, mas
vale a visitação para entendermos melhor a nossa história.
Cemitério dos Pretos Novos (*) |
Uma singela homenagem aos negros que foram "enterrados" no cemitério dos Pretos Novos |
E vou terminando esse post com uma frase: “A verdade consiste em evitar o esquecimento. Existe um dever de
memória, principalmente em relação ao que dói e incomoda.” – Jacques Le Goff
(*) As fotos marcadas com este símbolo foram retiradas da página oficial do Facebook do IPN - https://www.facebook.com/IPNMuseu todas as demais são de autoria da própria blogueira.
Informações do IPN
Rua Pedro Ernesto, 32/34
20.220-350 Rio de Janeiro
Telefone: 021 2516-7089
E-mail: pretosnovos@pretosnovos.com.br
Website: http://www.pretosnovos.com.br
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