sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Auschwitz – O Retrato da Maldade do Ser Humano

Um dos motivos que queríamos conhecer a Cracóvia é porque a cidade foi um dos palcos de uma das guerras mais crueis da história da humanidade. A Segunda Guerra Mundial.

Digo uma das mais crueis, pois foi nessa guerra que um dos homens mais influentes da Alemanha, Adolf Hitler, institui um estado Nazista onde uma das principais atrocidades era dizer que todos aqueles que não eram dignos de viver, deveriam morrer. Só assim a Alemanha teria uma raça pura e forte para conquistar o poder perdido com a guerra anterior (primeira guerra mundial). Quem eram os indignos? Judeus,  deficientes e doentes mentais, prisioneiros de guerra soviéticos, homossexuais, maçons, testemunhas de jeová e ciganos. E para exterminar todos os “indignos” só construindo lugares extremamente grandes onde essas pessoas poderiam ser utilizadas como trabalhadores escravos e serem mortos das formas mais crueis que se pode imaginar. E foi então que surgiram os campos de concentração por toda a Europa. E o maior campo de concentração estava localizado ali na Polônia, a mais ou menos  1 hora de carro da Cracóvia – Auschwitz - e era pra lá que estávamos indo.
Chegando em Auschwitz
Depois de tomarmos um café da manhã super especial na casa do Mike, ele nos levou até a rodoviária para pegarmos o ônibus que nos levaria direto para Auschwitz.
Parênteses: Naquele dia o tempo estava muito bom. Sol e céu azul, então coloquei menos casacos do que eu deveria. Se arrependimento matasse...Explico melhor depois!
O Mike nos ajudou a comprar as passagens e disse para a mocinha do caixa que queria 2 passagens para Auschwitz. Ela nos disse que havia um ônibus que estava indo pra lá em 20 minutos. Compramos as passagens, que se não me engano foi uns 16 Zlots (Ida e volta) e seguimos para a plataforma e verificamos que o nosso ônibus não era na verdade um ônibus e sim uma van de uns 12 lugares.
Combinamos com o Mike que quando voltássemos, eu enviaria uma mensagem pra ele do Mc Donald’s (santo wifi grátis) e ele viria nos buscar.
Entramos na Van, escolhemos sentar nos bancos de trás porque tinha um pouco mais de espaço para a Paula. Ela mede quase 1,80 né, então ela sempre saía em desvantagem...rsrs.
A viagem durou uma média de 1 hora, mas em um momento da viagem o vidro de trás parecia estar com uma frestinha aberta e vinha um vento gelado bem no nosso pescoço. Só Jesus! Não conseguimos dormir, porque estava bem desconfortável ali.
Descemos bem em frente à entrada de Auschwitz I. Andamos até a área da bilheteria e compramos uma visita guiada. Após às 15h você pode conhecer o local gratuitamente e sem guia. Mas achamos que um lugar com tanta história, deveria ser conhecido com um guia. Pagamos 40 zlots pelo ingresso que incluía a visita guiada à Auschwitz I e II com duração de aproximadamente 4 horas. No site http://en.auschwitz.org/z/, você pode ter mais informações sobre valores e horários das visitas.
O Início de um dos “tours” mais angustiantes da minha vida...
Nós esperamos um pouquinho e eis que a nossa guia apareceu. Ela era polonesa e o inglês dela estava meio difícil de entender. Tinha muito sotaque. Até a Paula que fala inglês muito melhor do que eu, estava com dificuldade de entender algumas vezes. Fora que não parecia que ela estava muito satisfeita naquele emprego. Não estou dizendo que ela deveria ser uma guia sorridente, até porque naquele lugar não tinha como, mas que tivesse um pouco mais de empolgação com a coisa, mas tudo bem!
Auschwitz I
Começamos a visita em frente a entrada que dizia Arbeit Macht Frei (O trabalho liberta), que ironia não? O trabalho liberta para aqueles que seriam por muito tempo escravos e mortos.


Nesse portal estava escrito uma das maiores mentiras contadas pelos Nazistas - "O Trabalho Liberta"
Auschwitz I virou um museu, onde são mostrados mapas dos lugares de onde os judeus e outros refugiados eram caçados e levados para lá. Os Nazistas percorriam os diversos lugares da Europa atrás dos judeus, lugares como Reino Unido, Budapeste e Roma estavam marcados no mapa, mas nada se comparava a Polônia pela quantidade de judeus que vivia naquele país.

Além de informações como quantidade de pessoas que foram levadas para aquele local e consequentemente foram mortas ali, você podia saber como as pessoas chegavam ao local e como viviam, ou melhor sobreviviam.
Inicialmente todos que desembarcavam em Auschwitz passavam por uma triagem e ali as famílias começavam a ser desfeitas. Imagine você chegar em um lugar com a sua família e de repente todos deveriam ficar separados. Inicialmente a triagem era para separar homens de mulheres, posteriormente crianças, jovens e idosos e por último aqueles que tinham alguma capacidade de realizar serviços braçais daqueles que estavam doentes ou impossibilitados. Normalmente estes últimos eram mortos logo na chegada. Para os alemães não justificava aquela pessoa viver, já que ela não “servia” para absolutamente nada.
Durante essa fase da visita, me deparei com uma sala onde estava dispostos objetos pessoais que chegavam com aquelas pessoas. Malas com os nomes escritos, roupas, óculos, sapatos, muletas. Todos esses objetos estavam em uma parede de vidro enorme. Era uma quantidade absurda de objetos e foi ali que eu comecei a sentir uma angústia e um aperto no peito. Eu ficava imaginando aquelas pessoas chegando ali, sem saber muito bem o motivo de estarem ali ou o que seria do futuro delas.
Depois de ver esses objetos, foi mostrada uma parede de vidro somente com as latas do veneno que era utilizado para matar as pessoas dentro das câmaras de gás. O cyclon B. Ali, naquele momento a angústia aumentou de tal forma que me deu uma vontade enorme de sair correndo daquele lugar. Eu não conseguia parar de pensar em como o ser humano podia chegar naquele nível de crueldade. Não eram animais (e nem os animais merecem um tratamento assim). Eram pessoas, tinham uma vida, uma história e que por um preconceito perderam suas vidas. Triste demais.
Tínhamos terminado o nosso tour em Auschwitz I e a nossa guia deu um intervalo de 20 minutos para irmos até Auschwitz II – Birkenau.
O intervalo era mais do que bem vindo. O clima estava tão pesado que nada melhor do que sentar e deixar os pensamentos voarem por um tempo.
Compramos um chocolate quente (feito com água...por que eles fazem isso meu Deus? :/) e esperamos a nossa guia próximo ao ponto de encontro que ela havia falado.
Ficamos ali e vimos que já tinha dado o horário. Quando olhamos bem a nossa volta o lugar estava meio vazio, olhei para a cara da Paula e: “Fomos esquecidas pela nossa guia”. Vimos que não éramos as únicas. Um casal que estava no nosso grupo também estava meio perdido.
Bom, resolvemos pegar o ônibus para Auschwitz II sozinhas, já que não ia adiantar ficarmos ali paradas. O ônibus estava incluso no ingresso e a estação é em frente à entrada do museu. O trajeto durou em torno de uns 5 minutos.

Malas das pessoas que chegavam

O tamanho dessas construções...

Potes e mais potes de Cyclon B

Óculos de todos que passaram por ali*

Auschwitz II
Quando chegamos em Auschwitz II, não vimos o nosso grupo e tentamos nos aproximar de um outro grupo que estava fazendo a visita em inglês. Mas a guia simplesmente disse que não poderíamos ficar ali e que deveríamos procurar o nosso grupo. Eis que láááá no final avistei a nossa guia (a bota branca que ela usava ajudou a identificar..rs). E nós corremos, corremos e conseguimos alcançá-la. E eu não me aguentei né? Cheguei para a guia e disse que era um absurdo ela não ter nos esperado e nem ter se dado conta que não estávamos lá. Gente, no tour gratuito que fizemos em Paris o guia contava e se preocupava com o grupo. Ali que era pago era a Bangu? Faça-me o favor né? Soltei os cachorros no meu inglês macarrônico (já disse que meu inglês fica péssimo quando estou nervosa..rs) e seguimos com o tour.


Auschwitz II*

Um caminho sem volta*

Um dos vagões que foram utilizados na época*
Nessa parte do tour conhecemos de perto os lugares que as pessoas ficavam.
Os alojamentos, se é que podem ser chamados assim, era simplesmente um galpão onde foram construídos triliches com tijolos e madeira. Só isso. Nas “camas” dormiam em média de 12 a 15 pessoas amontoadas umas com as outras. O chão na época, não tinha azulejos ou pedras, era barro puro e quando chovia aqueles que ficavam perto do chão tinham que conviver com a água que inundava o local.


Alojamento
Banheiros também eram indignos. Simples buracos feitos um ao lado do outro sem qualquer privacidade e sem qualquer higiene. Os soldados nazistas faziam prontidão enquanto a pessoa fazia as suas necessidades e ai daquele que ultrapassasse o limite de tempo estipulado para utilizar o banheiro.


"Banheiros", se é que podem ser chamados assim*
Banhos, não eram diários e quando tinham, a água que era utilizada nos chuveiros era envenenada para que as pessoas não pudessem beber e matar a sede.
Mas o local que mais me marcou foram as câmaras de gás. O lugar que foi planejado para ser feito o extermínio em massa. As pessoas eram levadas ao local e achavam que tomariam um banho, pois eram totalmente despidas, ao entrar, os soldados fechavam as portas e jogavam o veneno pelo teto. O cyclon B ao ser aspirado, entrava nas vias respiratórias e as pessoas acabavam morrendo por asfixia em poucos minutos. E o que faziam com os corpos? Simplesmente queimavam ou até mesmo enterravam em buracos enormes onde as pessoas eram jogadas lá dentro.


Câmara de Gás*
Crematórios*
Durante todo o trajeto vimos diversas homenagens às pessoas que perderam suas vidas ali. Rosas, coroas de flores, velas e afins.
O nosso tour estava acabando e o frio estava aumentando. A cidade parece que tem um clima triste. O Sol que reinava na Cracóvia estava meio escondido ali e pelo fato de não ter colocado os meus 4 casacos costumeiros (sim, eu praticamente usava 4 casacos...rs) estava morrendo de frio. A luva não esquentava, o casaco não esquentava...O frio era demais. Depois que chegamos na Cracóvia descobrimos que a temperatura estava em torno de 5° graus...Uiii.
O tour terminou, pegamos o ônibus de volta para Auschwitz I e fomos procurar como fazíamos para voltar para a Cracóvia. Encontramos o ponto de ônibus que levava direto para a rodoviária da Cracóvia e iriamos pegar o penúltimo horário. O preço da passagem era de 10 zlots. Mas um ônibus nunca demorou tanto pra chegar...O frio estava congelando os meus ossos e o cansaço mental estava acabando comigo.
A experiência de ter conhecido Auschwitz nunca vai sair da minha memória e ao escrever esse relato, por vezes parei para tomar fôlego e escrever...Mas uma viagem não é feita somente de momentos alegres e paisagens bonitas, também serve para você refletir na sua vida e ser grata por vivê-la intensamente, enquanto as pessoas que estiveram naquele local não tiveram a mesma oportunidade que você.


Réplica do Paredão de fuzilamento e as homenagens

Mais homenagens

Ainda há esperança

Todas as fotos marcadas com * foram retiradas do site Creative Commons, ou seja, o uso pode ser feito livremente na internet

8 comentários:

  1. Gaby, adorei seu texto. Ele é rico em detalhes sem ser cansativo, Parabéns! Da pra ver que esse lugar tocou msm seu coração e vc conseguiu passar essa emoção pra quem está lendo. Bjs

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    1. Oi Juliana,
      Sim, tocou de mais o meu coração. Que bom que eu conseguiu sentir também a mesma emoção que eu tive ao estar lá.
      Seja bem vinda ao blog!

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  2. Muito triste mesmo!!!!!!!!!!!

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  3. Gaby
    Sou Danielle , tenho quase 70 anos e meu pai morreu lá em Auschwitz.Li seu blog com muito interesse pois estou querendo ir lá no ano que vem para ver tudo aquilo que sempre ouvi falar. Tenho alguns documentos desta época. Será que no museu tem o lugar onde ele ficou ? pois é isto que gostaria de saber o alojamento onde ele ficou. Você tem amigos là que poderiam ver isto para mim.
    De qualquer forma o teu blog muito me esclareceu sobre como chegar là.
    Um abraço .

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    1. Oi Danielle,
      No museu tem um espaço dedicado a todos que sofreram naquele lugar...Eu não sei se você vai conseguir saber exatamente onde o seu pai ficou, mas talvez você possa entrar em contato diretamente pelo site e ver se eles possuem essa informação http://en.auschwitz.org/z/

      Que bom que gostou do blog, esse foi um dos lugares mais tristes que já visitei na vida, mas que me fez parar e refletir um pouco mais! Super bj

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  4. Fiquei angustiada ao ler esse post, Gaby! Acho que teria crises de choro nesse lugar. Em contra partida conhecê-lo, seria um banho de civilidade. Que bom, tivemos o livramento por não ter nascido em um momento tão brutal da humanidade. Obrigada pelo seu relato. Beijos Maiara

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  5. Oi Maiara,
    Confesso que por vezes me deu uma vontade danada de chorar por todos aqueles que passaram por ali algum dia!

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  6. Nossa, entrei nesse post pela milésima vez (dessa vez por ter visto o filme A Menina que Roubava Livros) e me emocionei e me arrepiei pela centésima vez! Você soube passar toda sua emoção nesse post, realmente deve ter sido uma época horrivel, muito triste. Graças a Deus não tivemos por lá nessa época, o que não deixa de nos fazer pensar sobre aquelas pessoas e o que sentiam, o que pensavam.
    Muitas se 'ajoelhavam' sobre Hitler pelo medo. Uma história interessante e louca!

    Espero conhecer esse lugar um dia, deve ser renovador (triste, mas deve nos fazer pensar demais!).

    Bjs!

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